A mesma rivalidade que há entre nações e sistemas de religião, que normalmente é movida pela vaidade, pelo ciúme e pela ambição, em que os insanos lançam uns contra os outros, em insensatas lutas de extermínio, isto havia também entre as crianças do meu tempo, só que por motivos e circunstâncias bem diferentes.
Na escola, tínhamos bons e maus colegas. Ali, as refregas eram constantes entre alunos, especialmente durante os recreios. Brigávamos à toa; às vezes um simples olhar de deboche era o suficiente para irmos á forra, mas ninguém guardava rancor. No dia seguinte voltávamos a nos falar e brincar juntos sem transparecer qualquer ressentimento. Não era fantástico?!
Atualmente, os homens usam armas de fogo para se afrontarem; enquanto no meu tempo de criança, nossas armas eram pedras e pedaços de pau, as quais, mesmo usadas sob o impulso da intriga e do ódio infantil, não causavam risco de vida aos que se confrontavam em luta corporal. No momento da “refrega”, quando não dispúnhamos de pau ou pedra, as armas mais comuns eram os punhos e os dentes. A gente ia de dentada quando se agarrava com o opositor, porque alguns deles não davam oportunidade para darmos um soco.
Falar em dentada, eu tinha aproximadamente 10 anos de idade, quando me indispus com um vizinho meu de maior idade – um jovem de 23 anos, que era conhecido como “Toinho”. Eu teria feito algo errado que ele não gostou; não me lembro o que foi. Sei que “Toinho” me deu um “cascudo”, ou seja, bateu em minha cabeça com as falanges da mão fechada. Como eu não tirava partido com ele, por ser muito maior que eu, corri chorando em busca de minhas irmãs, Nilza e Cleonice, que foram tirar satisfação com o rapaz. Ele tomou como desacato e empurrou uma de minhas irmãs. Então, ambas investiram contra ele, derrubando-o. Ele no chão, e minhas irmãs dando “porradas” e tapas de mão aberta no rosto dele, enquanto eu aproveitei para dar dentada em sua coxa. Sentindo que a coisa estava “preta”, sem saída, “Toinho” gritava: “Socorro!... Socorro!... Acudam-me! Elas vão me matar”!
Outra ocasião, a briga foi com um rapaz de nome Dário. Ele me espancou durante uma partida de futebol de rua. Como ele era maior e mais forte que eu, não me habilitei reagir; então corri em busca de minha irmã Nilza, que foi comigo até onde Dário estava. Ela não contou conversa; investiu contra o rapaz dando “porradas” na cara deste. Quando ele caiu, eu fiz o mesmo que teria feito com “Toinho”: mordi desde a coxa até o pé. Cada dentada era um berro de dor que ele dava. Minha irmã só parou de bater no rapaz quando ele pediu clemência, e prometeu que não voltaria a bater em mim.
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