terça-feira, 13 de maio de 2008

Empinando Arraias

Lembro-me de outros fatos rememorativos da minha infância. Exemplo: eu gostava de “soltar” pipas. Na época, o termo era “empinar arraia”. A gente moia vidro e misturava com goma de tapioca cozida, cujo preparo era aplicado na linha pela qual a “pipa” era suspensa no ar. Toda “pipa” que estava no ar era perseguida pela que eu “empinava” e fazia trançar as linhas. A que tivesse a linha mais afiada, ou melhor, temperada com vidro moído, esta levava vantagem, cortando a “arraia” adversária.

Certo dia, aceitei o desafio de um primo meu no sentido de trançar as “arraias”, para ver quem levava a melhor. A linha de minha “pipa” estava mais bem temperada com vidro. Com isso, eu consegui cortar a linha da “arraia” do primo, que não ficou em nada satisfeito, vindo a me agredir fisicamente, quando ele viu seu invento ir embora e se parar em mãos desconhecidas.

O empinador de arraias mais famoso, em Juazeiro, foi o popular “Daú”, que atualmente reside em Sobradinho. Ele era imbatível, pois ninguém nunca conseguiu cortar sua arraia. Enquanto os colegas usavam goma de tapioca com vidro moído para temperar a linha, “Daú”, por sua vez usava verniz em lugar da goma. Ele era odiado por todos os empinadores de arraias, porque não deixava uma arraia no ar, cortava todas. Suas arraias eram bonitas, bem diferentes das que eram levantadas ao ar: eram de várias cores com a cauda feita com barbante fino e algodão. A arraia de Daú tinha um jogo especial. Ela sempre ficava em alturas mais elevadas, e com o jogo que ele fazia com a mão a “pipa” descia se requebrando com muita elegância, de ponta-cabeça cuja manobra era conhecida como “aú”, o que deu origem ao apelido de “Daú”. Ao entrar por baixo da arraia do adversário, a arraia de “Daú” a suspendia e ia logo cortando a linha da mesma sem dar chance para escapar. Quando a “pipa” cortada caia a garotada fazia a festa. Todos disputavam a arraia e a linha.

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