Como por intermédio das lutas nem pelo meio legal o elemento não conseguiu me tirar do seu caminho, num ato de covardia, ele usou de outra estratégia que desta vez funcionou. Eu tinha um amigo que morava em Senhor do Bonfim, e este era aluno de um mestre de Karate que fazia parte da Associação cujo dono era o meu inimigo gratuito. Este amigo apareceu na minha escola, na Serra da Carnaíba, e me propôs uma exibição pública de Karate com meu apoio e participação. Segundo ele, cada escola de arte marcial apresentaria publicamente o seu estilo de luta e, finalmente, seria feito um treinamento entre eu e o seu mestre, sem riscos de machucar um ao outro, uma vez que seria uma simples exibição, e não uma luta séria. Eu falei para ele que isto seria possível, mas que antes de tudo deveria conversar com o seu mestre que até então eu não o conhecia. Concordando comigo, ele marcou o dia e hora para termos esse encontro, em Senhor do Bonfim.
Na data marcada rumei a Senhor do Bonfim, onde fui recebido pelo mestre de Karate, o qual me foi muito receptivo. Ao me receber em sua casa, ele me fez a seguinte proposta: “Olha, Mestre Ursus, pelo que eu estou sabendo você conquistou nome e fama, e na sua região é muito respeitado”. E continuou o mestre de Karate que, por questões éticas não convém citar o seu nome: “Bem, Ursus, estamos enfrentando dificuldades financeiras e, como está se aproximando o carnaval, preciso levantar uma “grana” para curtir e não tenho como. Você é a saída! É o seguinte: pretendemos fazer uma exibição pública com seu apoio e participação na Serra da Carnaíba, para levantar essa “grana”. Se o seu nome for envolvido na exibição acredito que vai ser casa cheia”.
E perguntei-lhe: como será a minha participação? – Ele respondeu: “Bem, tanto os meus alunos quanto os seus farão demonstrações de catás e quebramento de objetos. Depois das demonstrações individuais dos nossos alunos, vamos simular uma luta entre Kung Fu e Karatê. Não vai ser nada sério. Ninguém deve atingir ninguém, para que não nos machuquemos”. E concluiu: “O objetivo é apenas ganhar o dinheiro dos otários”.
Ingenuamente aceitei a proposta do pretenso mestre de Karatê não sabendo que eu estava caindo em uma armadilha. E, dessa forma fui vítima de uma trama traiçoeira.
Chegou o dia da luta! Na noite anterior havia chovido muito. Eu havia dormido na cidade de Caén, onde estava dando assistência a minha academia. Eu deveria ir cedo para a Serra da Carnaíba, onde a luta seria realizada. Mas, isto não seria possível porque com as chuvas torrenciais a ponte da estrada entre Caén e Saúde havia caído e não tinha como passar. Até então eu não havia entendido que a destruição da estrada teria sido uma providencia divina para impedir que eu participasse dessa luta e fosse vítima desse ato covarde.
Uma vez sendo inteiramente impossível viajar naquele dia por causa da estrada que estava interditada, fiz um grande sacrifício para chegar a Serra da Carnaíba que se achava a menos de
Para não se alongar muito, ao chegar à localidade, inclusive atrasado, em cima da hora de realizar a luta, os meus alunos Mundinho e Antonio Barbeirinho foram ao meu encontro e me alertaram do que os elementos estavam tramando, mas eu não acreditei neles. No início da apresentação foi tudo beleza, mas quando chegou a nossa vez, entendi logo que os alunos tinham razão, pois o pretenso mestre de Karatê estava tentando me demolir. Não fosse a habilidade que eu possuía teria sido atingido logo na entrada. Enquanto eu evitava atingi-lo mesmo de leve, eu sentia que ele queria me assassinar com seus golpes demolidores. Até então eu não havia sido atingido.
Ato de covardia - Depois de alguns minutos de luta, por entender que o elemento tentava atingir-me, tentei imobilizá-lo com um golpe de jiu-jitsu, deixando-o impossibilitado de desferir seus golpes de Karatê; então o juiz da luta, que também era aluno desse maléfico mestre de Karatê, gritou: “Iamé”, dando sinal de nos separar da luta. Então eu disse: Se o combinado foi para ninguém atingir um ao outro, por que então você está tentando me atingir? – Ele respondeu: “Não pretendo lhe atingir! É porque estou muito empolgado com o numeroso público”. Nesse momento o juiz virou-se, dando as costas para mim, e acredito que ele teria dado um sinal para o traiçoeiro mestre, porque ele aproveitou eu estar descuidado e, por sobre o ombro esquerdo do juiz, desferiu um forte soco no meu rosto, atingindo-me o olho esquerdo. Houve um corte profundo no meu supercílio porque, propositalmente, ele estava com a mão envolvida em ataduras, o que facilita um corte em qualquer parte do corpo ante um choque traumático.
Ao ser atingido traiçoeiramente, eu disse para o juiz (que além de ser aluno do traiçoeiro mestre, era também um sargento da PM): “Até agora fui maleável em respeito aos meus princípios e ao que havíamos combinado. Mas, agora não há mais acordo; vamos lutar de verdade e ver quem é o melhor”. Nisso, o juiz me segurou e disse: “Isto não pode acontecer! Você não está em condições de continuar com essa luta, senão terá uma hemorragia e será muito pior”. Eu insisti para continuar, mas o juiz não permitiu. Enquanto eu tentava convencer o juiz para ir à forra, o pretenso mestre de Karatê se recolheu no canto e, visivelmente tremia batendo o joelho um no outro, não sei se por ódio ou por medo.
Dando a luta por acabada, fui enganado juntamente com o público que foi rotulado de “OTÁRIO” pelo elemento traiçoeiro. Toda a renda da luta foi afanada por ele e seus asseclas. E o pior de tudo é que eles se recolheram na Delegacia de Polícia, onde dormiram sob a proteção do delegado Renato. Depois de ter os ferimentos tratados pela enfermeira Solange, que trabalhava na farmácia da qual eu era sócio, fui até a delegacia de polícia requerer a parte do dinheiro que me cabia para eu me tratar. Em resposta, fui ameaçado de prisão pela referida autoridade policial caso eu continuasse cobrando a parte da renda da luta. Na manhã seguinte me retirei, mudando-me para Juazeiro, e o elemento assumiu o meu lugar, tomando posse da minha academia. Mas, não demorou muito ele desistiu porque o número de alunos era muito pouco.
Quando já residindo em Juazeiro, soube que os dois elementos que me traíram e roubaram toda a renda da luta, estavam ensinando Karatê no 3° BPM. Certa tarde quando eu ia à direção ao Grande Hotel de Juazeiro, um deles vinha sentido contrário em direção ao centro da cidade, e quando me viu entrou num beco que dá acesso a Rua do Paraíso e, em disparada, desapareceu. Eu ainda corri na tentativa de alcançá-lo, mas ele entrou em alguma casa da Rua do Paraíso, e não consegui localizá-lo. Depois disso soube que eles teriam desistido de ensinar no Batalhão de Juazeiro.
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