terça-feira, 13 de maio de 2008

Vida Esportiva

Em 1971, depois de trabalhar por cerca de três anos, na colportagem, fui morar em Senhor do Bonfim, onde me casei com dona Socorro, mulher com quem convivo até hoje. Nesta cidade nos estabelecemos como comerciante, implantando a primeira loja de produtos naturais e de alimentos integrais da Superbom, além de cosméticos da Api-Quin. Nossa lojinha funcionava ao lado do prédio onde hoje é a agência do Bradesco.

Em 1974, dei baixa da empresa junto à Receita Federal e fui residir na Serra da Carnaíba, na tentativa de melhorar de vida com o comércio de esmeraldas. Mas, como eu não tinha experiência nesse tipo de comércio, gastei tudo o que eu havia ganhado em Senhor do Bonfim, ficando praticamente pobre. Quem me socorreu foi o ex-colega de colportagem, irmão Manoelzinho, que possuía uma roça na localidade e me pagava semanalmente para eu fazer a estocagem da área. Eu roçava e arrancava tocos, para deixar a roça bem limpa. Eu permanecia durante todo o dia no cabo da foice, da enxada e do machado, e ao meio dia minha esposa ia levar o meu almoço. Quando eu despertei senti que tinha me transformado num “bóia fria”. Minhas mãos arrebentaram em calos e muito inchaço. Eu não conseguia apalpar objetos com força, porque as mãos eram cheias de calos e bolhas d’água e, por essa razão, extremamente doloridas.

Academia de Kung Fu e Jiu-Jitsu - Depois de algumas semanas conheci um boxeador, o ex-pugilista paulista, Teotônio, que se dizendo condoído da minha situação, gentilmente ofereceu um salão ao lado de sua residência para instalarmos uma academia de luta livre americana e jiu-jitsu. Além de ele haver me cedido o espaço, providenciou os equipamentos, como tatames, uma grande lona e os sacos de pancada. A academia foi aberta com a participação de 102 alunos.

Tudo correu as mil maravilhas e, com a ajuda de Deus, ganhamos muito dinheiro naquele lugar como mestre de jiu-jitsu. Logo a minha fama correu na região e com ela vieram os invejosos que tentaram todos os meios para fechar minha academia. Nessa época conheci um mestre de Kung fu, de nome Inácio, que me aconselhou me aperfeiçoar nessa arte para me tornar um atleta mais completo, já que eu desenvolvia bem o Judô, o jiu-jitsu e a capoeira, sendo que no Kung Fu eu tinha um bom início, mas não havia ainda me especializado mestre. Então me submeti a treinamentos rigorosos nessa arte chinesa e, depois de ir a Belo Horizonte, Minas Gerais, fazer um curso de mestrado, criei o meu próprio estilo de Kung Fu que o denominei de Cap-Kar-Tae-Dô, uma mistura técnica das artes: capoeira, karate e taekwon-do.

Depois de diplomado mestre Kung Fu, sendo batizado com o título de “Mestre Ursus”, introduzi na Serra da Carnaíba essa arte marcial chinesa, o que vale dizer que fui eu quem primeiro trouxe o Kung Fu para o Estado da Bahia. Na época procurei a Federação Baiana de Pugilismo para registrar minha academia de Kung fu, mas como não era uma arte conhecida na Bahia, o presidente da entidade desportista, Sr. Fausi Abdala, apenas assinou uma autorização concedendo-me o direito de atuar como pugilista autônomo. O registro da escola viria depois de a Federação de Pugilismo fazer um estudo do Kung Fu que, para as autoridades desportivas baianas, era uma arte desconhecida.

Desafios – Minha academia de Kung Fu crescia em fama e em organização. Diante da boa aceitação dessa arte marcial chinesa, implantei seis escolas, abrangendo as cidades de Jacobina, Juazeiro, Sobradinho, Saúde e Caén, além da Serra da Carnaíba.

Para dar conta dessas escolas, as quais eu teria que dar assistência, e viajava muito, permanecendo um dia da semana em cada escola. Na minha ausência as escolas funcionavam com instrutores que eram pagos para isto. As aulas eram abertas com a leitura da Bíblia e dos aforismos da Filosofia da Arte Kung Fu. Assim, com a ajuda de Deus, recuperamos vários alcoólatras, viciados ou dependentes de drogas.

Certa feita fui procurado pelo então delegado de polícia da povoação de Serra da Carnaíba, Sr. Djalma, que me elogiou pela recuperação desses homens que, segundo essa autoridade policial, vinha mantendo eles sob vigilância, por tratar-se, segundo ele, de “pessoas perigosas”. “Alguns desses seus alunos – disse o então delegado – são viciados em drogas e muitos são procurados como criminosos pela policia do Mato Grosso, Goiás e outros Estados, e você, com sua arte Kung Fu, conseguiu transformá-los em homens de bem”.

O inimigo da ordem e da paz não satisfeito com a recuperação desses homens jogou contra minha pessoa um inimigo gratuito muito famoso em Karate, o qual mantinha uma Associação da referida arte marcial que dirigia várias academias nalgumas cidades. Ele tentou implantar escolas aonde eu atuava e, não conseguindo concorrer comigo, buscou o caminho do terror e da vingança contratando lutadores profissionais das mais variadas artes para me desafiarem. Como não é do feitio do mestre Kung Fu aceitar desafios, eu tentava um diálogo com os desafiantes, mas estes recorriam ao serviço de auto-falantes local para lançar o desafio publicamente. Diante disso me sentia na obrigação de aceitar o desafio. E, durante as disputas, eu fazia questão de abreviar a luta deixando os adversários fora de combate utilizando golpes paralisantes e não traumáticos, a fim de que estes não viessem correr riscos de morte. Ao todo enfrentei 34 adversários oriundos de vários Estados do Nordeste, sem nenhuma derrota.

Não satisfeito com o grande prejuízo que tivera contratando lutadores caros para me desmoralizar sem conseguir, o profissional tentou fechar minhas escolas de Kung Fu usando a Federação Baiana de Pugilismo. Ele veio pessoalmente a Jacobina, em companhia de Fauzi Abdala, presidente da entidade e me intimou na Delegacia de Polícia. Chegando lá, o presidente da Federação me reconheceu e, por entender logo que isto não passava de perseguição por inveja, apelou para a união ou unificação das artes Kung Fu e Karate.

Nenhum comentário: