terça-feira, 13 de maio de 2008

Vida Religiosa

Em 1959, quando eu tinha 10 anos de idade, conheci a igreja adventista do sétimo dia. O meu irmão Elias, o primogênito da família, residia em São Paulo, e lá ele conheceu a mensagem adventista. Sua conversão foi historiada pela Revista Adventista, órgão oficial da igreja do mesmo nome. Uma bela tarde de domingo, quando estávamos em casa, recebemos a visita de um grupo de crentes adventistas. Eles cantaram belos hinos, fizeram uma oração e dirigiram um culto sob a coordenação de um alfaiate de nome Berto Santos. A partir daquele dia, todos os membros da minha família, exceto o meu pai, passaram a freqüentar esta igreja situada no centro de Juazeiro.

Em 1962, ou seja, três anos depois de haver conhecido o evangelho, chegou o dia em que minha mãe deveria selar sua fé em Cristo por meio do batismo por imersão. No dia anterior ao seu batismo ela convidou ao meu pai para assistir a cerimônia batismal. Ele, além de recusar o convite, prometeu-lhe que abandonaria o lar se ela fosse batizada. Ela dirigiu ao meu pai as seguintes palavras: “Olha, Roque, não me tenha como inimiga; mas eu não posso obedecer-lho mais que a Deus. A Palavra de Deus diz: “convém obedecer a Deus que a homens”. Tenho-lhe muito respeito e consideração, mas não posso deixar de aceitar o convite salvador de Jesus. Sinto não concordar com você, mas eu vou me batizar amanhã, e você está convidado para assistir o meu batismo, na minha igreja”. Meu pai se sentiu traído por minha mãe como se Jesus fosse um homem comum que a mulher pudesse se apaixonar.

Naquela noite do seu batismo, no retorno da igreja, minha mãe chegou a nosso lar radiante de alegria, com a Bíblia debaixo do braço. Ao adentrar a casa, meu pai estava sentado à mesa com um revólver calibre 38 sobre a mesma. Ele se colocou de pé com o revólver na mão e disse: “Eu pedi para você não se batizar, e você não me atendeu não foi?! Pois você vai ver o que vai lhe acontecer!?”. Diante da ameaça, ela retornou para trás e, rodeando a casa, pelo oitão, correu em direção ao rio São Francisco, pelos fundos, desaparecendo por entre arbustos, na escuridão da noite, sendo perseguida pelo meu pai que a perdeu de vista. Ela só reapareceu em nosso lar, na manhã seguinte, de madrugada, no horário de ir ao Mercado Municipal para comercializar suas verduras e hortaliças. Ela era verdureira. Pelo que sucedeu, acredito que os anjos de Deus ocultaram minha mãe dos olhos do meu pai que, revoltado com a conversão e batismo dela, por capricho, abandonou nosso lar como ele havia prometido caso ela viesse a se batizar na igreja adventista do sétimo dia.

Foi grande a preocupação de todos nós, filhos, pois achávamos que meu pai teria assassinado a nossa mãe. Nessa noite nenhum dos filhos dormiu, pensando no que teria acontecido. Mas, para a nossa alegria e tranqüilidade, por volta de quatro horas da manhã, minha mãe bateu devagarzinho na janela do quarto e dizia: “Cleonice, o Roque está dormindo?”. Ao ouvirmos a sua voz, rompemos o silêncio da madrugada com gritos de alegria que despertou toda a vizinhança. Ao abrirmos a porta, aos prantos, chorando, ela nos abraçou a todos nós que a aguardávamos com muita expectativa. Isto nunca foi revelado na igreja nem entre os nossos parentes por recomendação da nossa mãe, que não desejava expor o nome do nosso pai nessas circunstâncias.

Desde que me entendi como gente sempre vi minha mãe trabalhando como verdureira para suprir as necessidades do nosso lar e nos manter estudando, nas escolas. Nunca a vi se queixar de falta de dinheiro para devolver o dízimo e para dar sua oferta de gratidão, todos os sábados, na igreja adventista da qual ele era membro. Ela sempre foi abençoada pelo Céu, e pela graça de Deus, criou todos os filhos aos pés do Senhor, na igreja do advento de Cristo. Também, nunca faltou-nos o alimento de cada dia. O Senhor dos Exércitos, o Deus Altíssimo, sempre cuidou de nós. Todos os sábados éramos encontrados na igreja louvando e adorando o Criador do universo.

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