Em Salvador, o futebol de rua ou de praia, em que o jogador participa do referido esporte com os pés descalços, dá-se o nome de “baba”; em Juazeiro, se conhece como “pelada”. No meu tempo de criança as bolas utilizadas nas partidas de “peladas” eram feitas de meias, cheias de pedaços de molambos – esporte esse que produzia constantes aborrecimentos aos nossos familiares, pelo fato de, às vezes, pegarmos escondido as meias dos nossos pais ainda em bom estado de uso para confeccionar as bolas de pano. A trave sinalizadora onde o goleiro ficava para impedir que a bola passasse era composta de duas pedras.
Muitas vezes, durante essas competições, sofríamos choques de canelas ou mesmo de pés, causando acidentes, porque a bola era pequena para ser chutada a dois. Eu mesmo só vivia com os dedos dos pés estourados por impactos que sofria durante as partidas de futebol. Por conta dos acidentes, os participantes se agrediam com “xingamentos” (ou palavras de desafeto), e às vezes, a brincadeira terminava em “refregas”.
Eu era muito bom de chute. Meu chute era forte do tipo de Roberto Carlos, da Seleção Brasileira. Diante disso, eu era bom de fazer gol. Certa vez, eu “meti” muitas bolas dentro da trave adversária, que tinha como goleiro um rapaz de aproximadamente 22 anos, enquanto eu tinha apenas doze. O rapaz não se conformou com a goleada e partiu para cima de mim com socos, após o último chute a gol. Nisso eu fui para casa chorando e contei o ocorrido para minhas irmãs que sempre tomavam as dores. Mas, nesse dia minha irmã Nilza falou: “Você não é mais criança para a gente tomar suas dores; volte lá e vá à forra com o elemento, porque você já está crescidinho para viver apanhando de todo o mundo”. Isso mesmo eu fiz: voltei ao local da “pelada” e esperei terminar a partida. Em dado momento ele se descuidou e atirei-lhe uma pedra na cabeça do rapaz que caiu sangrando.
Com o aparecimento das bolas-de-borracha, as bolas-de-meias foram caindo em desuso, e somente os garotos mais pobres continuavam fazendo uso delas. As partidas de “peladas” aconteciam no meio da rua ou em terrenos baldios, logo que retornávamos da escola. Muitos bons jogadores de futebol, como Luizão Pereira e Nunes, que foram estrelas da Seleção Brasileira saíram dessas “peladas” que se realizavam em Juazeiro.
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