terça-feira, 13 de maio de 2008

Capturando Peixes

Toda manhã acordava bem cedinho para capturar preás, e aproveitava a ocasião para capturar alguns peixes que ficavam presos entre as pedras da beira do rio. As piranhas e surubins perseguiam os peixes menores, como piau-de-cheiro, curimatãs, matrinchans, corvinas e pacus, os quais corriam para a parte mais rasa do rio e terminavam por ficar preso entre as pedras. Eu conduzia um cesto, para colocar os peixes, e uma gaiola de ferro, para colocar os preás; assim, eu sempre tinha uns trocados para ajudar a meus pais na compra de pães e outras massas para o café da manhã.

Em períodos de vazantes do rio, reuníamos alguns colegas tanto do sexo masculino quanto do sexo feminino, para mexer as lagoas que se formava em baixios. O rio enchia e invadia as áreas baixas, onde os peixes se aglomeravam para comer a vegetação submersa. Quando o rio voltava a baixar tornando ao seu leito normal, os peixes ficavam confinados nos baixios sem poder retornar ao leito natural do rio. Então, pegávamos galhos de árvores e arrastávamos de um lado para o outro da lagoa, deixando a água bem barrenta, sem oxigenação. Diante da concentração de deutério na água, os peixes buscavam a superfície para respirar, já que a lama formada pelo arrastar dos galhos de árvores teria retirado o oxigênio da água. Com isso, tornava-se fácil capturá-los.

Nestas investidas havia muito acidente; muitas vezes éramos mordidos por piranhas e traíras, que ficavam na beira da lagoa somente com os olhos e boca fora d’água. Quando a gente levava a mão para atirar os peixes para fora da água, piranhas e traíras eram rápidas em contra-atacar com seus dentes afiados. Alguns dos colegas perderam seu dedinho; outros tiveram partes das mãos ou da canela mordidas. Eu mesmo perdi metade da cabeça do indicador da mão esquerda, lado em direção ao polegar, perdendo metade da unha; mas, para minha felicidade, com o tempo, voltou quase ao normal. Outro perigo das lagoas eram os caboges e mandis, os quais possuem esporões afiados como canivetes, que espetavam na sola dos pés, e só podiam ser retirados com uma cirurgia, sob intervenção médica. Os que tentavam retirar por conta própria, o esporão quebrava no pé, dentro da carne, tendo que fazer a cirurgia de qualquer maneira. Eu sofri somente uma vez esse tipo de acidente. O esporão de um caboge quebrou no meu calcanhar do pé esquerdo, e eu nunca tive a preocupação de extraí-lo. Fiquei durante muito tempo com o calcanhar infeccionado, sendo que mais tarde criou-se um tumor no local, que me incomodava quando eu ficava muito tempo em pé numa fila de banco.

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