Toda manhã acordava bem cedinho para capturar preás, e aproveitava a ocasião para capturar alguns peixes que ficavam presos entre as pedras da beira do rio. As piranhas e surubins perseguiam os peixes menores, como piau-de-cheiro, curimatãs, matrinchans, corvinas e pacus, os quais corriam para a parte mais rasa do rio e terminavam por ficar preso entre as pedras. Eu conduzia um cesto, para colocar os peixes, e uma gaiola de ferro, para colocar os preás; assim, eu sempre tinha uns trocados para ajudar a meus pais na compra de pães e outras massas para o café da manhã.
Em períodos de vazantes do rio, reuníamos alguns colegas tanto do sexo masculino quanto do sexo feminino, para mexer as lagoas que se formava
Nestas investidas havia muito acidente; muitas vezes éramos mordidos por piranhas e traíras, que ficavam na beira da lagoa somente com os olhos e boca fora d’água. Quando a gente levava a mão para atirar os peixes para fora da água, piranhas e traíras eram rápidas em contra-atacar com seus dentes afiados. Alguns dos colegas perderam seu dedinho; outros tiveram partes das mãos ou da canela mordidas. Eu mesmo perdi metade da cabeça do indicador da mão esquerda, lado em direção ao polegar, perdendo metade da unha; mas, para minha felicidade, com o tempo, voltou quase ao normal. Outro perigo das lagoas eram os caboges e mandis, os quais possuem esporões afiados como canivetes, que espetavam na sola dos pés, e só podiam ser retirados com uma cirurgia, sob intervenção médica. Os que tentavam retirar por conta própria, o esporão quebrava no pé, dentro da carne, tendo que fazer a cirurgia de qualquer maneira. Eu sofri somente uma vez esse tipo de acidente. O esporão de um caboge quebrou no meu calcanhar do pé esquerdo, e eu nunca tive a preocupação de extraí-lo. Fiquei durante muito tempo com o calcanhar infeccionado, sendo que mais tarde criou-se um tumor no local, que me incomodava quando eu ficava muito tempo em pé numa fila de banco.
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