terça-feira, 13 de maio de 2008

O Negro D’água

No meu tempo de criança, eu ouvia muitas estórias de “Negro D’água” – um duende das águas do rio São Francisco - que, segundo os pescadores, apareciam em noites de luar ameaçando virar suas canoas. Esses duendes de pele escura, com mãos e pés de pato, exigiam dos pescadores fumo e uma garrafa de cachaça, para deixá-los em paz, e em troca, eles prometiam assustar os peixes contra as redes, que ficavam pesadas de pescado.

Certa ocasião, em uma das travessias do rio São Francisco, em companhia do meu primo José Alvino, aproveitei para resfolegar sobre uma grande pedra que fica no meio do rio, próximo do porto do São Francisco Country Clube. Era época de cari – um peixe de casco preto que vive em locas das pedras do leito do rio, e se alimenta de vegetais aquáticos -, uma espécie cuja carne é afrodisíaca, do rio. Então, eu resolvi introduzir a mão em uma das locas, esperando capturar um cari. Enquanto isso, meu primo nadava em direção à margem do rio; ele já estava à minha frente uns 200 metros. No momento em que coloquei a mão na loca, senti algo como uma mão apalpar o meu pulso da mão direita, puxando-me para baixo, para o fundo do buraco na enorme pedra. Nisso, dei um grande sopapo, me libertando do que me prendia. Imaginei logo que eu estava sendo puxado por um “Negro D’água” e, braço pra que te quero?!

Dei umas braçadas rápidas em direção à margem do rio. Como eu estava assaltado pelo medo, em poucos segundos alcancei o meu primo, e gritei: “Aí vem o “Negro D’água”! Aumente as braçadas!”. Ao ver-me apavorado, com cara de aterrorizado, José Alvino me acompanhou a nado; e chegando à beirada do rio, ele afirmou que sentiu algo que vinha atrás de nós produzindo uma enorme mareta escura.

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